A intervenção da polícia egípcia para
desalojar os apoiantes de Mohammed Morsi termina num banho de sangue e na
reposição do Estado de emergência em todo o país.
De acordo com fontes oficiais, a polícia
conseguiu controlar a segunda praça do Cairo, a Rabaa al-Adawya, ocupada há
seis semanas pelos manifestantes islamitas. Mas o uso excessivo da força levou
à demissão de Mohammed ElBaradei do cargo de vice-presidente. O prémio Nobel
considera que havia meios pacíficos para por fim à crise política.
Ao mesmo tempo que o Estado de emergência,
o governo decretou o recolher obrigatório em 12 das 27 províncias, entre as 19
horas e as seis da manhã. A decisão afeta, por exemplo, o Cairo, Alexandria e
Suez.
O Estado de emergência entrou em vigor às
16 horas, locais, e vai durar pelo menos um mês. Mas a decisão foi contestada
pelos Estados Unidos, que pedem aos militares que respeitem os direitos humanos
mais básicos do povo.
Segundo as autoridades, foram detidas 540
pessoas e o balanço de vítimas continua a ser provisório. A meio da tarde, o
ministério da Saúde falava já de 149 mortos e mais de 1400 feridos em todo o
país. Mas a Irmandade Muçulmana, movimento ao qual pertence o presidente
deposto a 3 de julho, evoca 2200 mortos e dez mil feridos. Não há confirmação
independente.
Entre as vítimas mortais encontram-se
vários membros das forças da ordem, um operador de câmara da televisão
britânica SKYNews, uma jornalista do grupo Gulf
News, dos Emirados Árabes Unidos, e as filhas de dois dirigentes da Irmandade
Muçulmana. Uma delas é Asma el Beltagui.
O pai, Mohammed el Beltagui, que foi detido
esta manhã, acusou o exército está a conduzir o Egito para a guerra civil e
deixou um apelo internacional: “se não intervirem, toda a comunidade
internacional será cúmplice do massacre dos egípcios”.
A comunidade internacional é unânime em
condenar a violência no Egito. Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU, lamentou que as autoridades
tenham escolhido a força para responder aos protestos. A União Europeia pede
contenção a todas as partes. Mas a reação mais marcante veio da Turquia, que
pede a intervenção da ONU e da Liga Árabe para pôr fim ao que
chama de “massacre”.
A intervenção policial no Cairo atiçou os
ânimos em todo o Egito.
Várias igrejas coptas foram atacadas em
todo o país. Em Alexandria, segundo a televisão egípcia, os manifestantes
islamitas atacaram a Biblioteca da cidade. Há confrontos e mortos em Fayoum e
na província de Suez.
O tráfego ferroviário de e para o Cairo
está suspenso e os locais turísticos como as Pirâmides ou o Museu do Cairo
estão fechados.
Tudo começou de madrugada, com as forças da
ordem, depois de vários dias de ameaças, a avançarem contra os acampamentos
erguidos e barricados há seis semanas. As autoridades acusam os membros da
Irmandade Muçulmana de serem “terroristas”, de terem armazenado armas nos
acampamentos e usado mulheres e crianças como “escudos humanos”.
Os islamitas exigem o regresso ao poder do
presidente islamita Mohamed Morsi, eleito em junho de 2012 nas primeiras
eleições livres no país. Foi deposto a 3 de julho e encontra-se detido, em
local indeterminado. A sua detenção foi prolongada esta semana por mais 15
dias.
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